Justificar, responsabilizar ou mesmo fundamentar a “conveniência de serviço”, mesmo de quem tenha premeditada e dolosamente, delapidado o erário público, não é necessário, enfatizou João Lourenço, por, justificou, ser uma prática de há 42 anos. Neste regabofe, a culpa continuará a morrer solteira, para gáudio dos corruptos, que detém o controlo exclusivo das finanças do país.
Por William Tonet
Tanto assim é que ninguém ousou perguntar, 24 horas depois da exoneração de uma exonerada de uma empresa pública, a proveniência de 100 milhões de dólares, investidos numa fábrica de cerveja. É a podridão na máxima expressão e a convicção de perpetuidade das práticas lesivas do Estado, por parte da elite da “Casa Grande”, face à cumplicidade, fraqueza e pobreza programática da oposição.
E iremos continuar a assistir, quais irmãos siameses, ao desfile, em tapete vermelho, do político & da corrupção, decepcionando a “masturbação” inicial de mudança, com as exonerações “lourencinas”, que não passaram de paliativos, para anestesiar os povos e desviá-los da órbitra crítica da monumental fraude eleitoral de 2017.
A corrupção está de tal forma institucionalizada que também anestesia os órgãos da Justiça, tal como a Procuradoria-Geral da República que, na posse de uma denúncia internacional de dois empresários brasileiros e uma carta rogatória do Brasil, sobre uma comissão de 15 milhões de dólares, dada à empresa de publicidade ORION, com fortes ligações a João Lourenço, não muge nem tuge.
Tudo numa altura em que havia, também, fortes suspeitas de milionárias comissões dadas pela INDRA e pela SIFIC à Direcção da CNE, além da denúncia feita, ao Folha 8, por um alto ex-membro do gabinete da Presidência da República de José Eduardo dos Santos, A. Bernardo H. Fungani, de o presidente da Comissão Nacional Eleitoral ter recebido 15 milhões de dólares, para tornar a lista do MPLA com João Lourenço vencedora, com maioria absoluta ou qualificada.
Verdade ou mentira, tudo incrimina. Principalmente, face à ostensiva recusa, no apuramento dos resultados eleitorais em 15 das 18 províncias do país. A CNE e o MPLA, como hoje se discute no seu interior, têm plena consciência de só pela força e pelo poder da corrupção transformaram derrotado em vencedor e vencedores em derrotados.
E, para contornar a espiral da bandeira reivindicativa da oposição, capitaneada pela UNITA, inteligentemente, João Lourenço concedeu audiência exclusiva a Isaías Samakuva, recebendo deste o benefício da dúvida sobre um pretenso combate ao nepotismo, à discriminação política e à corrupção, mas a boa-fé do líder da oposição de nada valeu, pois JLo transformou o essencial em acessório, ao desresponsabilizar os roubos.
Desenganem-se aqueles que acreditaram que com esta tribo política (continuação da anterior), haverá alternativa de dias melhores, pelo contrário, a tempestade será devastadora, para os pobres, que terão menos comida à mesa, tal como, na crueza das palavras, reconheceu no dia 8 de Janeiro, o Presidente da República.
Inflação e desemprego serão aliados da maioria dos cidadãos, com a agravante da promessa eleitoral dos 500 mil postos de emprego, prometidos pelo MPLA, ter sido mandada às urtigas, tal como o aumento salarial na Função Pública, só será possível com despedimento de mais de 50% dos funcionários. É a lógica de uma desastrosa política económica que ao não privilegiar o consumo, aposta em cada vez mais impostos, para os pobres, alimentando a “banga” da corrupção institucional.
Nesta encruzilhada, Angola está carente do pragmatismo e sagacidade de um líder, à dimensão de um Nito Alves ou Jonas Savimbi, que diante da crise não iam à cesta básica do pobre, nem, vergonhosa ou dolosamente, assinariam o ofício de aumento de salário de governantes, parlamentares e juízes, como se estivéssemos num festim de quadrilha.
Um verdadeiro líder da oposição tem de ser um mobilizador, com soluções pragmáticas, ante o desvario actual. Tem de ser um leão inconformado, capaz de impor respeito, aos adversários e admiração popular. A oposição tem de deixar de ser medrosa e enfrentar a realidade, reivindicando nas ruas a penúria popular, e uma governação mais responsável e honesta, mostrando estar disposta a abdicar das mordomias e conforto dos gabinetes, porque os angolanos precisam de políticos, sérios, honestos e trabalhadores comprometidos com a felicidade do povo e não com corruptos, ladrões ou seus cúmplices.